Apesar de se saber que José Ribeiro é um mercenário para todos os serviços, importa continuar a pôr não um dedo mas todos os dedos nessa ferida, que já é uma autêntica cratera putrefacta, que dá pelo nome de “Jornal de Angola”, também conhecido por Pravda ou Boletim Oficial do regime.
Por Orlando Castro
N a verdade, o Pravda é o principal instrumento do regime que aposta tudo na incitação à intolerância absoluta e à violência”, pelo que a sobrevivência dos mercenários depende do grau de sabujice e dos resultados da sua luta contra a reconciliação nacional e a paz.
Seguindo as ordens de serviço do patrão, os sipaios editorialistas do pasquim, sob o comando do mercenário José Ribeiro, usam o Boletim Oficial para atacar todos os que pensam de forma diferente, sejam portugueses, norte-americanos ou angolanos.
Convenhamos que o Boletim Oficial do MPLA tem razão. Os seus sipaios só vêem, só podem ver, o que o patrão quer que se veja. Daí que sejam realidades diferentes. Uns vêem a floresta e outros apenas a árvore. Uns olham para os angolanos, outros apenas para os interesses do MPLA. Uns olham para as barrigas cheias… de fome, outros comem a lagosta que o chefe de posto coloca na sua mesa.
“O Jornal de Angola emite opiniões que não agradam a Isaías Samakuva e ele acusa as autoridades de “passividade”. Se o líder da UNITA estivesse no poder, era certo e seguro que nos forçava a calar. E atendendo ao passado da organização, é legítimo supor que os meios usados para a mordaça fossem ferro ou fogo. Felizmente vivemos num Estado de Direito e Democrático. Até agora a única acção que sentimos no sentido de atentar contra a liberdade de imprensa foi só o comunicado da direcção da UNITA. Ainda bem que o maior partido da oposição revela de uma forma clara e directa o seu compromisso ideológico com a censura. Nós cá estamos, sempre livres, rigorosos, responsáveis e ao serviço do Povo Angolano, sem discriminações nem preconceitos. Somos jornalistas, não somos paus mandados nem estamos a soldo de ninguém. Quando for calada a nossa voz, os leitores ficam a saber que há censura em Angola e pelo menos um partido, a UNITA, defende a lei da rolha contra os jornalistas incómodos”, escreveu em tempos o Boletim Oficial num Editorial não assinado, provavelmente para evitar a revelação do verdadeiro autor ou, também é possível, para não ter de colocar a impressão digital no lugar da assinatura.
É que todos têm nome, mas poucos sabem escrever… até mesmo assinar.
O Boletim Oficial tem, reconheçamos, razão em muitas coisas. “Vivemos num Estado de Direito e Democrático”, alega o sipaio que, na verdade, não pode ser culpado, muito menos jugado, por ter copiado a frase. É natural que ele, assalariado e mercenário contratado, não saiba a diferença entre ser ou não um Estado de Direito e Democrático. Para ele, ser amante da Maria José ou do José Maria é a mesma coisa. Urge, portanto, ser paciente com estes aprendizes que nada mais querem do que chular os angolanos.
Também a alusão a que no Boletim Oficial trabalham jornalistas e que existe liberdade, tem de ser, benevolamente, entendida no seu contexto. Eles não sabem mais e, como mandam as regras divinas estabelecidas pelo “escolhido de Deus”, se o querido líder diz que eles são jornalistas, é porque são. Se Kundi Paihama, que nem militar foi, é um general das FAA, é justo que um qualquer analfabeto funcional possa ser jornalista. O mesmo se passa com a dita liberdade. Eles são livres para dizer tudo. Tudo o que o chefe manda. Portanto…
Seja como for, o Boletim Oficial promove a intolerância e a violência. O Povo, que não as elites corruptas e os mentores dos sipaios, sabe que é verdade. É contudo, natural que “jornalistas” da propaganda, digam o contrário, jurando a pés juntos (muitos deles aprenderam a estratégia com a PIDE e com o regime “democrático” de Salazar) que nunca defenderam a violência ou puseram em causa a reconciliação nacional.
Também é natural que a direcção do MPLA e do regime (são a mesma coisa) os tenha mandado “assinar” um texto a dizer que quem incita à violência e põe em causa a reconciliação nacional são a UNITA, a CASA-CE, o Luaty Beirão, os jovens activistas, o Rafael Marques, o William Tonet, o Folha 8.
Por regra o Boletim Oficial dá eterno e indestrutíveis exemplos do seu contributo para a paz e para a reconciliação nacional. Um exemplo. Quando critica a UNITA por querer homenagear Jonas Savimbi, um angolano que o pasquim trata como “o condecorado herói do apartheid, o que reduziu Angola a pó, só porque perdeu as eleições de 1992, o que destruiu barragens, postes de alta tensão, pontes, vias-férreas, aeroportos, escolas, hospitais, o que matou, ao serviço do apartheid, milhões de angolanos, queimou mulheres vivas na Jamba, instrumentalizou crianças para a guerra, assassinou friamente dirigentes da UNITA só porque estava de mau humor” etc. etc..
Alguém quer melhor e mais explícita confissão do que é para o regime a Democracia e o Estado de Direito, a liberdade, a paz e a reconciliação nacional?
Temendo que a sua raiva não fosse mesmo assim entendida, o Boletim Oficial acrescentava, num estilo que ultrapassa Kim Jong Un, que homenagear Savimbi “é um atentado de morte à reconciliação nacional. É igual a glorificar Hitler ou negar o Holocausto”.
E, para reforçar a tese de glorificação dos massacres de 27 de Maio de 1977, perdão, da filantropia que separa Savimbi de Eduardo dos Santos, nada melhor do que chamar à colação a obra daquele que é o representante divino da Deus em Angola, em África e não só.
“O Presidente José Eduardo dos Santos salvou a vida a milhares de dirigentes da UNITA e seus familiares. Abraçou todos os que estavam nas matas do Lucusse quando o herói do apartheid, Savimbi, morreu em combate. Quem foi salvo da morte certa, tratado como amigo, libertado da sarna e dos piolhos, alimentado, recebeu tratamento médico especial, considerado irmão, não pode acusar o seu salvador de assassino. Fazer isso é mais do que violência gratuita e intolerância fanática: é ingratidão e imoralidade. Todos os angolanos de bem se sentem violados e agredidos”, dizia, diz e dirá, o Boletim Oficial.
Parafraseando António de Oliveira Salazar, também “o regime colonial português salvou a vida de milhares de pessoas do MPLA, libertou-as da sarna e dos piolhos, e ensinou alguns deles a viver fora das copas das árvores”. Pelos vistos, as teses do ditador português continuam a fazer escola. Compreende-se. Alguns dos que mandam no Boletim Oficial estudaram na mesma escola da Polícia Internacional de Defesa do Estado e privaram com Rosa Casaco e seus muchachos.